Locomotiva Mikado 760, com composição em um passeio Histórico-Cultural sobre o viaduto das quatro pontes na Serra do Mar

Maria Fumaça
Para Moças, Flores, Janelas e Quintais

Por Maurício Baier - www.sbsrevista.com.br

         "A Maria Fumaça voltou a cantar para moças, flores, janelas e quintais"... A frase adaptada da música ‘Ponta de Areia’ do Milton nascimento está estampada na primeira página do Guia de Informações que é distribuído no trem entre Rio Negrinho e Rio Natal. Nada expressa melhor as sensações proporcionadas pelo passeio com a velha locomotiva à vapor. De uma só vez mergulhamos no tempo e nas belezas naturais da ferrovia das cachoeiras...

Locomotiva Mikado 760 com composição em passeio próximo a estação de Corupá

        Sábado, 11 de novembro. A neblina cobria a região de Serra Alta quando chegamos à velha estação. Passavam alguns minutos das 10 horas e aguardávamos ansiosos a chegada da histórica composição, mesmo sabendo que sua saída estava marcada para as 10h50min. O trem parte do município de Rio Negrinho e trinta minutos depois pára na estação de Serra Alta, em São Bento. Daqui a viagem segue até o povoado de Rio Natal, já na descida da Serra do Mar.

Quarteto de Flautas Transversais na Recepção

        Enquanto aguardávamos, na plataforma um quarteto de flautas transversais se preparava para recepcionar o trem de ferro. Curiosamente, a música lembrava a instrumentação do conjunto Boca Livre que gravou a música do Milton Nascimento e Fernando Brant em 1981, criticando a desativação da estrada de ferro de Minas Gerais. Claro que era uma agradável coincidência, porque normalmente são bandas e fanfarras de escolas locais que fazem suas apresentações aqui. O tradicional apito finalmente anunciou que a locomotiva estava perto. Antes dela, avistamos a coluna de fumaça que rendera-lhe o nome. Aos poucos,a Maria Fumaça vai aparecendo depois da última curva e se aproxima lenta da estação. Os turistas observam empolgados.
        A grande maioria dos passageiros vêem de Curitiba, Florianópolis, Joinville e São Paulo. Boa parte deles são pessoas que no passado tinham contato com o trem como meio de transporte, e agora vão matar as saudades. "Sentir novamente o cheiro da fumaça", como comentou uma das turistas.

Locomotiva Mikado 760 passando pelo paredão de pedra próximo a Igreja de rio Natal. Local da parada para o almoço.

        Entrando no trem, a primeira coisa que chama a atenção é o excelente estado de conservação dos vagões de passageiros, que são das décadas de 20 e 30. Eles foram restaurados pelos voluntários da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) de Rio Negrinho. São cerca de 15 idealistas que não medem esforços para manter tudo nos trilhos. Esse trabalho de restauração ainda conta com a indispensável colaboração do carpinteiro Pedro Henrique da Cruz, com seus 72 anos – um verdadeiro artista, que consegue reproduzir com perfeição cada peça.

Turistas de várias partes do Brasil fazem o passeio

        Os vagões são confortáveis e espaçosos, mas a grande atração mesmo está nos detalhes. Tudo nos remete pelo menos 50 décadas no passado. Desde as fechaduras das janelas, às luminárias, suportes para bagagens, bancos, banheiros... Não é a toa que tudo isso é chamado de museu dinâmico. Um paraíso para quem é observador.

Hora de partir, pontualidade britânica

        Às 10h50min, a máquina voltou a apitar. Um breve rangido anunciou o início do movimento. Partimos com pontualidade britânica rumo à paradisíaca Rio Natal, incrustada nas colinas no meio da descida da Serra do Mar. O deslocamento é mais silencioso do que se poderia esperar. O trecho oferece pouca dificuldade para a velha locomotiva Mikado, construída em 1945 pela Baldwin Locomotive Works na Filadélfia, Estados Unidos. Junto com ela, a equipe técnica da ABPF colocou outra máquina menor, que está em teste. Na serra ela será usada para avaliação.
        O trem é conduzido pelo presidente da regional da ABPF, o engenheiro eletrônico Ralf Ilg. Destacado piloto de vôos em linhas particulares, Ilg passa boa parte das horas em terra sentido o calor da caldeira da locomotiva. Ele passou por cursos de preparação e treinamento na rede ferroviária para desempenhar a função.

Ralf Ilg, o Maquinista (à direita)

        Em poucos minutos chegamos à lendária estação de Rio Vermelho. Maior e mais estruturada que a de Serra Alta, era ponto obrigatório de parada para os viajantes entre as décadas de 20 e 60. Conta-se que era um dos melhores lugares para um bom lanche. Mas, nós passamos direto. Hoje em dia há pouco para ver. É um imenso patrimônio histórico abandonado. É a partir da estação de Rio Vermelho que começamos a descer a serra.
        Depois de uma passagem lenta entre trens cargueiros, retomamos a velocidade média de 40 km/h e as primeiras paisagens são observadas. Embora uma espessa camada de nevoeiro bloqueie a visão das cachoeiras que deram o nome turístico desta via, os turistas de outras cidades se manifestam encantados com o que avistavam nas proximidades da linha férrea.
        É interessante frisar que a medida que deixamos à cidade, as pessoas que residem nas margens da ferrovia são vistas acenando alegremente para os passageiros, como que saudando àqueles que permitiram-lhes ouvir de novo o velho apito. O pessoal do interior parece mesmo mais empolgado com o espetáculo. Os passageiros respondem ao aceno e o maquinista se anima no apito.

Túnel na Serra do Mar, trecho do passeio.

        Às 11h29min três apitos curtos anunciam a proximidade do primeiro túnel. São 20 segundos de escuridão, iluminada apenas pelas lâmpadas amareladas dos vagões. Enquanto descemos cada vez mais, Luís Carlos Ehnckels – um dos voluntários da ABPF – contava aos 55 passageiros a história da construção da ferrovia. Ele repassou informações sobre o início da construção em 1906, a passagem pela nossa região em 1913 e a conclusão total em 1917. Explicou ainda que nas décadas de 20, 30 e 40 era a principal ligação de Santa Catarina com o mundo e lembrou que para a sua construção, incluindo os túneis, não havia grandes máquinas à disposição. Os construtores tinham que contar com a força física, picaretas e dinamite.

Milhares de flores, recobrem o paredão ao lado dos trilhos

        Uns cinco minutos depois de sairmos do túnel, passamos por um trecho onde o trilho está suspenso vários metros no ar. Não dá para reprimir um frio no estômago, enquanto olhamos o grande vale que se forma literalmente abaixo de nossos pés. Passamos pelo segundo túnel às 11h38min. A partir deste ponto foram as flores que começaram a chamar nossa atenção. Conhecidas por "beijo", elas recobrem os barrancos laterais da estrada de ferro e em alguns pontos até os dormentes foram cobertos.

Trecho do passeio, corte de pedras e ao fundo o Morro da Igreja e a belíssima Mata Atlântica.

        Um pouco adiante, um paredão de pedras na encosta do lado esquerdo, prenuncia o terceiro e maior túnel, no trecho até Rio Natal. São cerca de 80 metros de extensão. O quarto túnel passamos às 11h46min. E como se ele fosse um portal de entrada na bucólica localidade. Imediatamente após ultrapassar o túnel, podemos avistar ao longe a igreja (onde vamos parar para almoçar). A estrada de ferro segue, fazendo muitas curvas. Faltando poucos minutos para às 12 horas, chegamos diante da igreja e o trem parou.

Igreja de Rio Natal

        Fomos recepcionados pelo senhor "Luli", uma verdadeira figura folclórica da região. Normalmente são duas horas reservadas ao almoço, onde é servida a comida típica polonesa, com alguns toques da cozinha alemã. Na área de festas, instalada ao lado da igreja, há um pequeno salão de baile onde está o senhor Vino Schoefeld tocando em seu bandônion clássicas polonesas e alemães.

Vino Schoefeld e seu bandônion

        Os turistas ficam impressionados com a peculiaridade do lugar. Após a refeição, outra peculiaridade ainda maior: a apresentação do Grupo Folclórico Germânico Unterinntaler, que foi muito aplaudido.

Locomotivas Mikado 760 e 155 com composição, em passeio especial natalino no pátio da estação de Rio Natal.

        A própria igreja é uma das atrações, com suas cores fortes no topo de uma colina. Um imenso jardim em volta e uma vista privilegiada de uma boa parte da localidade. Após o almoço, resolvemos dar uma escapada até a estação, cerca de um quilômetro mais abaixo. Os turistas são apanhados de volta na igreja, mas enquanto acontece o almoço, a locomotiva desce até a estação para liberar os cargueiros que estão subindo.
        Pela estrada, passamos por algumas casas típicas do interior e em cerca de 15 minutos chegamos à pequena estação. Já tínhamos estado aqui há alguns anos, e a primeira coisa que chamou atenção é o péssimo estado de conservação. Está bastante depredada e se medidas urgentes não forem tomadas, corre grande risco de ter o mesmo destino da de Osvaldo Amaral, que já foi destruída.
        Um pouco abaixo da estação há um grade túnel, com 150 metros de extensão. Dos cinco do trajeto, é o único totalmente escavado na pedra. Mas a Maria Fumaça não faz mais os passeios até Corupá, como antigamente. A distância é grande e o passeio fica muito demorado, além haver problemas com o trânsito de trens de carga.

Preparativos para a subida da serra, agora com duas locomotivas

        Enquanto acompanhávamos os preparativos da locomotiva para subida da serra, ainda na estação de Rio Natal, não poupamos perguntas aos maquinistas e ajudantes.
        Um contraste interessante. Entramos na locomotiva e nos deparamos com um moderno sistema GPS computadorizado de navegação por satélite. O maquinista explicou que esse dispositivo é obrigatório para todos os trens nas malhas da Ferrovia Sul Atlântico. Através do GPS, todos os trens são rastreados por uma central de controle. O aparelho, do tamanho de um lap top, é que informa a liberação da linha, o tráfego no sentido contrário, e permite enviar informações para o satélite, confirmando cada posição. Um verdadeiro desespero e o fim da linha para os agentes de estações.

Locomotiva Mikado 760 com composição em dia de passeio, sobre a ponte do rio Humboldt.

        Faltavam alguns minutos para as 14 horas e o trem partiu serra à cima, rumo a igreja. Agora, com as caldeiras funcionando a todo vapor, são lançadas ao ar fagulhas e fuligem. Também aumentou o barulho característico dos pistões da locomotiva. Enquanto subíamos, passamos por duas antigas casas na beira da linha, e que foram doadas para a ABPF. Ainda não há uma destino previsto para elas, mas já se sabe que as chances de não serem depredadas são maiores.
        Ao longo da subida, Luis Ehnckels, contou-nos que existe a intenção da construção de um restaurante junto à estação de Rio Natal.
        O passeio realmente vale cada centavo e não é a toa que vem atraindo tantos visitantes. A Maria Fumaça da ABPF de Rio Negrinho é a única do Brasil a operar em serra. Também é a única em linha comercial. "Agora a nossa composição tem a preferência de trânsito e por isso conseguimos ser pontuais". Outro projeto para breve é o da recuperação de um vagão restaurante que seria utilizado para ampliar as opções de lanches no trem. Atualmente é servido um delicioso chocolate caseiro. Vale a pena experimentar.
        A chegada à São Bento do Sul aconteceu com tranqüilidade. Despedir-se da locomotiva é que não: é nítida a impressão de que deixamos algo para traz. Vê-la sumir ao longe é quase poético..

Uma cena do passeio em tarde ensolarada.

Calendário de Passeios para 2014

    CONFIRMADOS  À CONFIRMAR
DATAS DE PASSEIOS EXTRAS,  CONSULTE A CENTRAL DE VENDAS
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
15/02 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
29/03 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
19/04 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
10/05 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
21/06 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
19/07 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
20/07 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
16/08 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
  10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
20/09 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
11/10 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
12/10 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
15/11 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
16/11 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
13/12 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho
14/12 10:00 Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho